Paty do Alferes de Serra Acima
15 de dezembro de 1987 - 2025 - 38 anos de emancipação
19/12/2025
Historiador Sebastião Deister
Edição 529
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Paty do Alferes tem se valido, nos últimos tempos, de alguns eventos populares baseados na força de sua produção agropecuária - tais como a Festa do Doce e a Festa do Tomate - para incrementar o chamado turismo popular e cultural.
Bandeirante Garcia Rodrigues Paes
Por outro lado, a grade histórica de que o município dispõe vê sendo devidamente instrumentalizada no sentido de criar em seu território as chamadas "trilhas ecológicas" que contornam antigas e importantes fazendas do ciclo do café. De fato, foi pelas terras de Paty que o bandeirante Garcia Rodrigues Paes deitou parte do Caminho Novo de Minas - uma das variantes da Estrada Real - com isso possibilitando a ocupação demográfica de grande área do chamado Vale do Paraíba do Sul. Lembremos, também, que a área patiense abriga grande extensão da Estrada do Imperador, caminho utilizado por D. Pedro II, em 1859, para efetuar uma visita de cortesia ao amigo Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, o barão de Paty do Alferes. A (por enquanto) verdejante estrada é um ícone que precisa e deve ser resgatado.
De qualquer forma, as festas acima citadas têm atraído para Paty do Alferes um número expressivo de turistas, sendo que a Festa do Tomate (realizada no parque de Exposições Amaury Pullig, no Distrito de Avelar) recebe em seus cinco dias um bom milhar de visitantes entre turistas, comerciantes e espectadores locais interessados nas múltiplas atrações musicais proporcionadas pela Prefeitura. Dessa maneira, podemos considerar tais pessoas como um grupo heterogêneo pontual e sazonal, já que não há estatísticas oficiais ou definidas a respeito do número de visitantes que chegam à cidade nesse período de diversão e alegria.
Templo de estilo neoclássico datado de 1820
Por sua vez, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição representa, com justiça, um símbolo arquitetural e histórico que poderia ser associado ao turismo religioso, uma vez que se trata de um templo de estilo neoclássico datado de 1820 e recuperado em 1844. Entretanto, toda a estrutura da igreja encontra-se em lastimável e perigoso estado de deterioração, estando assim desativada e interditada para qualquer atividade sacra. Na verdade, continuam as promessas (sempre promessas!) de obras de restauração financiadas e dirigidas pelo IPHAN, seu proprietário que, a propósito, jamais demonstrou grande interesse em recuperá-la. A bem da verdade, não custa lembrar que obras de recuperação estrutural foram iniciadas, mas logo paralisadas por conta de um imprevisto trabalhista, e pelo visto não há prazo para seu reinício.
Centenária Fazenda da Freguesia fundada em 1739 (286 anos)
Outro local digno de visitas é a Aldeia de Arcozelo, espaço cultural montado por Paschoal Carlos Magno. Na verdade, trata-se das instalações da centenária Fazenda da Freguesia fundada em 1739 pelo alferes Francisco Tavares, patrimônio histórico que representa o embrião de Paty do Alferes. A Aldeia, embora em condições estruturais precárias e desassistidas, tem como oferecer, na área de cultura, um belo anfiteatro rodeado de árvores seculares, sala de música com piano, salão de artes plásticas, igrejinha católica, capela em homenagem aos escravos que ali viveram e um teatro interno, prestando-se assim para eventos culturais de médio porte. O mês de julho sempre acolheu um já conhecido e bem frequentado Festival de Teatro Amador, mas nos últimos anos nem mesmo tal atração foi realizada, visto que, por determinação judicial, todo o espaço está vedado a eventos ou simples visitações. Portanto, a Aldeia, assim como a Igreja Matriz, constitui mais um patrimônio esquecido e deixado aos sabores do tempo implacável e corrosivo, embora a prefeitura já tenha implementado ali alguns serviços de modernização.
Centenária estação da estrada de ferro
Já na centenária estação da estrada de ferro funciona um escritório da Secretaria de Turismo. Em Seu entorno, implementou-se uma Feira de Produtos Naturais destinada a acolher um público cada vez mais exigente em matéria de alimentação sem o uso de defensivos agrícolas, promoção que tem recebido grande aceitação por moradores e visitantes. Nas proximidades da mesma estação, e já no interior da Praça 4 de Setembro, foi instalada a sede da Academia de Letras Joaquim Osório Duque Estrada nas dependências do Coreto Pedro Chaim, uma louvável parceria firmada com a Prefeitura Municipal que, certamente, atendeu a uma antiga reivindicação daquela importante instituição cultural patiense.
Na economia produtiva, o carro-chefe do município é o tomate, sendo que Paty é o primeiro produtor do estado do Rio de Janeiro. Por conseguinte, não há tão-somente uma receita típica desta culinária no município, mas sim diversos pratos - doces ou salgados - ligados a esta monocultura.
Hotéis e pousadas
A cidade possui alguns hotéis e várias pousadas de qualidade, mas o destaque maior é para o Arcozelo Palace e para o Parque Manga Larga, cujas amplas estruturas disponibilizam vários espaços culturais e sociais - cinema, sala de convenções, salão de festas, piscina térmica coberta etc. - e bastante conforto e qualidade. Por outro lado, as demais pousadas, em sua maioria, localizam-se em áreas rurais, embora seus acessos não ofereçam grande dificuldade para quem se disponha a conhecê-las.
No campo artesanal, o Distrito de Avelar abriga uma interessante cooperativa de trabalhos baseados na palha de milho, atividade bastante divulgada em outros municípios fluminenses. No entanto, muitos outros artefatos são produzidos na região, entre eles aqueles confeccionados em couro, madeira, lã, bambu, tricô, crochê etc.
300 anos do Caminho Novo de Minas
Um cenário ainda desconhecido e inexplorado refere-se ao Caminho Novo de Minas mencionado acima. Essa estrada passa tanto na área urbana como na zona campestre de Paty, e por ser uma via aberta há mais de 300 anos, poderá se constituir em ponto de turismo ecológico e cultural. A propósito, a Secretaria de Turismo e Cultura já manteve, em anos anteriores, entendimentos com outros municípios contemplados pelo Caminho (como Miguel Pereira, Paraíba do Sul e Nova Iguaçu) a fim de viabilizar um projeto que recupere tal espaço, sinalizando-o e adequando-o a passagens de cavalos, motos ou bicicletas. Esperemos que as conversações a respeito voltem a acontecer e que tal projeto traga para Paty novas perspectivas sociais, culturais, históricas e turísticas.